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Posts Tagged ‘energia antagônica’

Parte 2 de 2

O mundo é constantemente espoliado e agredido pela realidade de violência, perseguição, fome, doenças, falta de moradia, tráfico, exploração humana, miséria… Diante dessa realidade opressiva, faz-se política para justificar a guerra, mediar os conflitos a curto prazo, para fazer ajuda humanitária que alicia o assistencialismo e para coagir, desproteger e intimidar o cidadão.

É chagado o momento, mais do que nunca, de discernirmos sobre a personalidade política que vem sendo roubada de nós e negada por nós. Uma tarefa difícil, que exige com que mudemos e desapeguemos de hábitos e até mesmos falsos valores que nos prendem ao retrocesso e à comodidade conveniente. Está no íntimo do ser humano buscar a solução para os problemas e as crises que o atinge.

Para assumir a crise política, é necessário usar a capacidade humana da evolução, a razão disso é muito simples: o ser humano não cresce um Humano pronto, mas torna-se um. Com efeito, o hábito civil, ético e virtuoso se adquire pelo compromisso de reformar o pensamento  auto (re)educar-se. O cidadão político deve aprender a escolher e julgar o princípio de suas ações, decidir com prudência e, sobretudo, aprender a ser justo, pois a justiça é o início e a finalidade da dignidade.

O método para econtrarmos força para combater a realidade que viola a dignidade está no nosso âmago, no fundo de nossa natureza, no equilíbrio biológico que por uma fenda no tempo-espaço renasce incorporado nos Direitos Humanos, que é inato a todos nós, sem nenhum tipo de exceção. Não há como renunciá-los ou negá-los a não ser que se defenda que o ser humano veio de uma natureza subumana e viva em regressão.

Pois ao crer nos Direitos Humanos, recupera-se o humanismo e faz renascer na lenta história uma nova comunidade global. A nossa sabedoria política aliada na defesa aos direitos humanos age como uma energia antagônica, força que permite o renascimento da potencialidade moral e o vigor humano, é uma força que percorre o caminho contrário da destruição e apaga o mal. Deseja-se o fim da morte injusta, luta-se a favor da vida justa. É a lei de apagar o fogo com seu oposto, água. Uma energia natural que fornece equilíbrio.

Não há espaço para justificarmos os direitos do homem, pois é incontestável, há espaço apenas para protejê-lo e afirmá-lo (BOBBIO, 2004) [1]. E ao afirmar a educação nos direitos humanos, recebemos cinco lições fundamentais para o exercício de nossa cidadania política.

  • Primeiramente, habitua-se a discernir e se perguntar sobre suas próprias atitudes diante de si, do outro e da sociedade.
  • Habitua-se a se relacionar além da tolerância, pois não somente suporta-se o outro, mas reconhece-se no outro.
  • Torna-se capaz de compreender sua função na cidade, ou seja, praticar a cidadania voluntária de acordo com as circunstâncias da cidade.
  • Raciocina-se que trabalhar pelo bem comum é, ao mesmo tempo, trabalhar o melhor bem para si, pois, quando não há respeito aos direitos humanos e às peculiaridades culturais, religiosas e sociais, o ser humano será constantemente espoliado e agredido, dando lugar à violência.
  • Por fim, educar-se para saber como se tornar um ser humano, disposto a lidar, respeitar e amar o que há de universal em todos nós, principalmente as diferenças, as culturas, as etnias, etc.

É assim que acontece o empossamento da nossa capacidade política como forma de tomar para si os problemas e se introduzir – direta ou indiretamente – nas medidas governamentais, nas tomadas decisão, na multiplicação de ideais pragmáticos para a reconstrução da dignidade e da justiça no mundo. E achar nos direitos humanos a resposta e a única invocação de solução, como a frase tantas e tantas vezes repetidas na revolução francesa ,com que termino este ensaio:

“A grama já está crescida, ide para os campos pastá-la”!

Silas Grecco

 

Bibliografia

  • ARISTÓTELES. A Política, 2. ed. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 5).
  • BARBOSA, Rosangela. O Sentido Ético da Noção de Lei no Pensamento Filosófico Grego Antigo.Dissertação de mestrado defendida na faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2004.
  • BOBBIO, Noberto & VIROLI, Maurizio.Diálogos em torno da República.Os grandes temas da política e da cidadania.Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002.
  • COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 1999.
  • Direitos Humanos e Cidadania .São Paulo : Moderno, 1998.
  • MORIN, Edgar. O método 6: Ética. 2 ed. Tradução de Juremir Machado da Silva. Porto Alegre : Editora Sulina, 2005.
  • MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação no Futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2004.
  • MORIN, Edgar.A cabeça bem-feita.Repensar a reforma/reformar o pensamento.Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 2006.
  • PINSKY, Jaime & PINSKY, Carla Bassanezi.História da Cidadania.São Paulo: Editora Contexto, 2005.
  • The Right to Human Rights Education.United Nation: New York and Geneva, 1999.

[1] “O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los.” (BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campos, 2004, p.24)

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