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Escola de Atenas

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HUMANISMO COMO VALOR ABSOLUTO

Por Alberto Dines     

Alberto Dines

Alberto Dines

O brasil começa a descobrir sua capacidade de conviver com diferentes experiências e variadas intensidades.Apesar dos sustos, supõe-se que seja um sinal de normalidade.

            Quando se fala em cultura, ocorre de imediato a famosa ameaça do marechal Goering, principal assecla de Hitler: ” Quando ouço falar em cultura, fico com vontade de sacar da pistola!”.

            Hoje, diante de tantas definições do que seja cultura, o professor de Harvard, K.Anthony Appiah, nascido em Gana, saiu-se com esta paráfrase de tirada do gordo nazista: “Hoje, quando se ouve falar em cultura, é preciso puxar do dicionário”.

            Cultura hoje está mais para antropologia do que para humanidades e, nessa transformação aparece irremediavelmente associada a “diversidade”.E diversidade cultural converteu-se em passaporte para a modernidade.Há 20 anos, a onda era o holismo, culto do todo e da integridade.

            O mundo não era mundial nem globalizado e, não obstante, você se sentia magnetizado pelo conjunto, assimilado e assimilador.

            Hoje, na era da fragmentação, cultura converteu-se num fascinante e frenético processo de etiquetagem e secessões.A pretexto de promover de a inserção, acelera-se a exclusão, inventam-se tantos filtros, clivagens e segmentações que nada consegue manter-se intacto e integrado.

            Nessa moagem cultural que se auto alimenta nos claustros acadêmicos e se propaga atravéz da dramatização mediática, o próprio conceito de humanismo e humanidade já não consegue existir plenamente sem algum prefixo definidor ou a complementação particularizadora.Os filósofos passaram 3.000 anos tentando elaborar valores absolutos para servirem de paradigmas e, agora, ei-los triturados pelo afã relativista.

            Vivemos sob o fio cortante do hífen:  pós-modernismo, neo-liberalismo, transexualismo, pré-capitalismo, freudismo-tardio, democracia-participativa, folk-arte, ficção-reportagem, dança-acrobática, teatro-absoluto, cinema-noir, rock-pauleira, reggae-branco, pós-new wave, new-New Age, sul-Sulamericano.O travessão, outrora designado como “traço de união”, diacrítico, agora sinaliza para irrepaváveis polarizações.

            A tal diversidade cultural produz outros fenômenos curiosos.Comecemos por estas paragens impressas: cadernos e suplementos culturais costumavam ocupar-se das sete artes.Sempre tratadas com a deferência apropriada à transcendência da vida cultural.

            Hoje, por artes do marketing, obras magníficas são noticiadas ao lado de um, comercial, que os lobistas convertem em fato relevante, e convivem com a mais nova encenação de telecomediografia.

            È preciso lembrar o que aconteceu quando os bolcheviques tomaram o poder na Rússia, há 80 anos: não tiveram grandes dúvidas para optar entre “cultura-para-o-povo” ou “cultura popular”.Precisavam elevar as massas e não nivelar por baixo.Serviram-se de Tchaikósvski, Prokofieff, Kachaturian, palhaços de circo, Einsenstein, danças e corais de pastores.

            O resultado da mais formidável cruzada cultural dos tempos modernos pode ser avaliado nas ruínas do império soviético: a única sobra, não degradada, é a qualidade das legiões de músicos, bailarinos, coreógrafos, e cineastas espalhados pelos quatro cantos do mundo.

            A resposta à globalização não é diversidade pura e simples mas a identidade – densa, integrada, enriquecida, elaborada.E isso não se produz por meio de eventos, sejam eles de nível super, hiper ou mega.Nosso comissariado da cultura, municipal, estadual e federal, em muitos casos, deslumbra-se com a “cultura” do eventual, relegando os programas, sistemas e instituições .

            Um projeto de médio ou longo prazo não causa impacto, não gera manchetes.E nessa sucessão de espasmos (hifenizados ou não) as diversidades continuam segregadas, incapazes de agregarem-se para crescer.

            Não podemos repassar ao “mercado” a responsabilidade de regulamentação e direcionamento que cabem à cidadania e ao poder público.Está na hora de ministrar algumas doses de intervenção, não tão drásticas como tranco nos juros promovido pelo Banco Central, mas com alguma severidade.

            Estado-mínimo ou sociedade-máxima, o importante é impedir que o mercado – esta coisa onipotente, onisciente e onipresente – transforme-se em “cult”.Com ou sem hífen.

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