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Posts Tagged ‘meio termo’

Na aritmética é indiscutivel que a soma sempre terá maiores resultados do que a subtração, mas isso permanece na inexpressiva aritmética, enquanto explorar nossa identidade nos proporciona muito além de mais ou menos, branco ou preto, certo e errado. Nós temos uma capacidade divina, que pode fugir da lógica pura, mas não necessariamente foge da justiça e da paz. Falo do que no francês é chamado de juste-milieu, que significa literalmente justo-meio, no inglês pode ser compreendido como happy medium que numa tradução literal fica meio-termo feliz. 

Infelizmente outras características do ser humano ficam em destaque quando há algum tipo de conflito onde surgem dois lados opostos, como o orgulho, a revolta, vingança, a intolerância e o pior de todos: a falta de intersubjetividade, aquilo que nos coloca no lugar do outro apesar de tudo, que age através da reciprocidade e da tentativa de compreensão. Por outro lado não se deve confundir com imparcialidade ou consenso, mas sim como uma expressa advertência para o não-extremismo, que geralmente é fruto das incapacidades de comunicação, reflexão, negociação e sensatez.

O que nos faz pensar que é mais fácil (talvez cômodo) promover a guerra e mais difícil (talvez desagradável) promover a paz é porquê não nos realizamos de quão praticável o juste-milieu é no início de nossas atitudes. Existem casos como a crise entre Hindús e Mulçumanos na Índia de Gandhi, por exemplo, ainda que não decorresse sobre a temática, certamente se houvesse uma atitude conciliatória e moderada em ralação aos extremos de suas diferenças a crise não culminaria em desastre. Ainda que num dos lados tenha “melhores razões” ou “bons motivos”, ambos devem agir pela lei do justo-meio, simplesmente porquê quando estamos “certos” não nos dá direito de fazer o “errado” como se a justiça fosse por meio de pontos acumulativos.

Certamente se as tribos que em ritos de passagem fazem práticas como a mutilação genital o fizessem por meios em que se combinasse o melhor para ambos os lados, seus interesses culturais estariam melhor resolvidos e não se tornariam uma ameaça aos direitos humanos das mulheres.

Há um outro lado, contudo, em que o juste-milieu não precisa ser exercido, desde que a avaliação subjetiva seja exercida por meio de valores e que amplie horizontes sob a forma de justiça, porém não se cria valores do nada, é necessário que para ser parcial e ao mesmo tempo virtuoso, já se tenha experimentado o consenso social e a harmonia do justo-meio. Esse papel poderia ser exercido por um um juiz, árbitro da lei que ao mesmo tempo que julga, pode o fazer por meio de uma mediação parcial justa, como de uma deliberação de abuso de autoridade, o que determinará isso será o uso da prudência e da razão.

A virtude não nos faz escolher um lado, mas tenta unificá-los por um único ponto em comum, ainda que viéssemos a escolher um lado, não seria para retaliar o outro, mas sim para desenvolver melhor um diálogo. Este é o juste-milieu, que não se trata de ser imparcial, mas de achar o lado em que se promove o bem e dele fazer multiplicações, porquê nessa operação o bem sempre será maior.

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