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Archive for the ‘América do Norte’ Category

Não, não é uma mentira de primeiro de Abril, de fato a  Secretária de Estado dos EUA Hillary Rodham Clinton e a Embaixadora dos EUA na ONU Susan Rice anunciam que os EUA irão concorrer a um assento neste ano no Conselho de Direitos Humanos da ONU com o objetivo de trabalhar para fazer o Conselho um orgão cada vez mais efetivo na promoção e proteção dos Direitos Humanos.

Conselho de Direitos Humanos

Conselho de Direitos Humanos

A decisão está de acordo com a Administração Obama, ou seja, uma “nova era de engajamento” com outras nações para progredir nos interesses de segurança Americana e comprometer-se com os desafios do século 21.

“Direitos Humanos são um essencial elemento para a Política Externa Global Americana” disse Clinton. “Com outros, nos engajaremos para melhorar o sistema de direitos humanos da ONU e avançar a visão da Declaração Universal. Os Estados Unidos ajudaram a fundar as Nações Unidas e mantém uma participação fundamental no avanço da organização que é o verdadeiro compromisso com os direitos humanos, valores que partilhamos com os outros Estados-membros. Nós acreditamos que toda nação deve viver para ajudar a moldar a conduta global, uma conduta que garanta que as pessoas gozem de seus direitos de viver livremente e de participar completamente em suas sociedades.”

O presidente rotativo do conselho, em Genebra, Martin Ihoeghian Uhomoibhi, disse que a decisão americana de concorrer é mais uma prova do compromisso do país de avançar com a proteção dos direitos humanos, em nível global.

O presidente disse ainda que como observadores, os Estados Unidos já estão contribuindo, de forma positiva e construtiva, para o trabalho do conselho.

Segundo agências de notícias, as eleições para o conselho estão marcadas para 12 de maio na Assembléia Geral. Concorrem com os Estados Unidos, Bélgica, Nova Zelândia e Noruega.

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Os Estados Unidos finalmente nomeou um enviado especial para o Sudão, algo que Obama tinha citado como uma prioridade desde o início de sua Presidência. O Enviado, cujo nome se manteve curiosamente em segredo foi publicado ontem à tarde, será Scott Gration, um ex-General da Força Aérea e alto membro da equipe Segurança Nacional de Obama. Obama cumpre sua meta por enquanto.

É interessante que Obama esteja utilizando um oficial militar para esse trabalho, ao invés de um diplomata de carreira, como era o antecessor de Gration, Rich Williamson. Não querendo dizer que Gration não trará uma energia diplomática, uma vez que terá que olhar para Darfur por meio de perspectivas Militares e também de Segurança Nacional.

É um testamento da importância do Sudão para política externa Americana, que não é apenas um senso moral, mas é fundamentalmente baseado na própria moral, isso é um desenvolvimento honroso.

Abaixo segue uma tradução de um pedaço do artigo de Nicholas Lemann comentando a política externa Americana para o jornal New Yorker:

“Nós ferramos tudo,” Gration disse para mim. “Nós não concertamos de verdade essas coisas.” Ele mencionou a crise humanitária de Darfur, a disputa Israel-Palestina e a tensão entre a Geórgia e Rússia. “O que eu vou esperar que aprendamos com isso é: ‘Sim, nós temos que concertar os problemas básicos aqui.’ Ele continuou. O que não funciona na mente de Gration é forçar uma solução. Criar um ambiente que dê as pessoas a oportunidade de abrir suas diferenças e ver se elas se unem. “Nós não falamos qual é a solução, mas temos uma obrigação – Vamos entender essas pessoas, descobrir suas necessidades e ver se conseguimos surgir com um plano. Sem tentar congelar conflitos!”

Leia aqui um discurso de Gration para a Convenção Nacional Democrática do dia 28 de agosto de 2008.

 

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A atriz americana, Mira Sorvino (atriz de filmes como Tráfico Humano e Romy E Michele), toma posse nesta quinta-feira como embaixadora da Boa Vontade para o Combate ao Tráfico Humano.

Sorvino será confirmada no cargo durante um encontro de alto nível sobre tráfico humano, na sede da ONU em Nova York.

Mais Completos

Na cerimônia será lançado ainda o Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas.

O documento é resultado de uma pesquisa realizada em 155 países e territórios e é considerado um dos estudos mais completos sobre o tema.

O evento está sendo organizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc.

Força-Tarefa

Entre as vítimas de tráfico humanos estão meninas, muitas vezes vendidas pelas próprias famílias, trabalhadoras domésticas que são forçadas a práticas de escravidão, crianças-soldados e pessoas às quais são prometidos empregos, mas que acabam em redes de prostituição femina e masculina.

No ano passado, a ONU montou uma força-tarefa, UN Gift, com várias agências para combater o tráfico de seres humanos em diferentes níveis.

O evento que formalizará a atriz Mira Sorvino como embaixadora do Unodc para combater o tráfico humano será dirigido pelo diretor-executivo da agência, Antonio Maria Costa.

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Mia Couto, você é um orgulho.

Mia Couto

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de “nosso irmão”. E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: ” E se Obama fosse camaronês?”. As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente “descobriram” que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado ‘ilegalmente”. Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um “não autêntico africano”. O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos “outros”, dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso “irmão” teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada “pureza africana”. Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder – a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado – a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos – as pessoas simples e os trabalhadores anónimos – festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.


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rice.jpgABC News is reporting that Obama confidant, former Assistant Secretary of State and member of President Clinton’s National Security Council, Susan Rice is slated to be the United States Permanent Representative to the United Nations. This is great news. The fact that President-elect Obama is entrusting US diplomacy at the United Nations to such a close adviser is a sure sign of the high priority to which the new administration will place US-UN relations. Deeper still, her background as a regional Africa expert will come in handy. About 2/3rds of all discussions at the Security Council are about situations in Africa.

More broadly, Rice is known in foreign policy circles as an innovative, forward thinking foreign policy wonk who pays special attention to the connectivity of today’s threats and challenges. As a diplomat, I expect her to be fairly sharp-elbowed, which is not a bad quality for Turtle Bay!

Here is how UN Foundation head Tim Wirth described Rice to Spencer Ackerman a couple of weeks ago.

Rice saw connectivity in the world’s problems, instead of viewing them through the traditional prism of individual state power. 

“She was one of the few people to live in the foreign-policy world who understood global issues, transnational issues like human rights, climate change and terrorism,” said Wirth, who worked with Rice when she was at the NSC and who now heads the United Nations Foundation. “The foreign-policy community is largely about political relationships. That’s what drives the [typical] foreign-policy world. But the new one is transnational problems, problems that don’t have passports.”

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Sunday’s New York Times Magazine included an interesting Q & A with Secretary of State Condoleezza Rice.  (One of the gems is Ambassador Chris Hill’s advice that Americans consider how our advice is taken globally, particularly with respect to democracy promotion.)  The Q & A is worth a full read, but one thing struck me, and I’d be grateful if anyone could shed some light on what Rice had in mind.  She is quoted as saying, “I have regrets about Darfur, real regrets. I don’t know that there were other answers. The president considered trying to do something unilaterally — very difficult to do.”  I have done a little bit of searching to figure out just what unilateral act(s) the president considered, and I’ve come up empty.  Military?  Economic?  If you understand the reference, please respond in the comments.  And how serious was the consideration of doing something unilaterally?

Meanwhile, see former SYG Kofi Annan’s remarks in today’s IHT, which concludes thus:

Responding to a claim by Secretary of State Condoleezza Rice, for example, who said Washington had worked “day and night” to end human rights violations in Darfur, Annan smiled before remarking: “I don’t know about day and night. It depends how long your days and your nights are.”

“The world could not give them 18 helicopters,” he said. “We could have done more – and should.”

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Pois é, o governo do Quênia declarou nesta quarta feriado nacional por causa da vitória de Barack Obama.E Lança um vídeo musical como comemoração!! O vídeo se chama “Obama pelo teu nome” e faz referência à oração Pai Nosso quando diz “seja feita sua vontade” e faz referência também ao discurso de Luther King “Eu tenho um sonho”

cobertura da midia no fato histório

cobertura da mídia no fato histório

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O Sonho de Obama!

NÓS PODEMOS ACREDITAR!

MUDANÇA: NÓS PODEMOS ACREDITAR!

 Por Silas Grecco
 
Houve um momento na história pessoal de cada um de nós que sentimos vontade de mudar o mundo, exigir aquilo que é de nossa natureza humana, a justiça e a esperança. Muitos desistiram desse sentimento, a era Bush enfraqueceu a todos mostrando que um “homem” em nome da democracia pode fazer o que quiser como sempre o fez por toda a história. Muitos desistiram pois sentiam-se somente governados, nada além disso.
 
Mas se não alcançamos justiça no mundo ainda, a esperança voltou a existir com Barack Obama e seus sonhos. A paixão, o vigor, a precisão, a ética, o idealismo, o conhecimento e vontade compõe um pouco daquilo que Obama representa para todos nós.
 
Mas que esperança é essa que requer com que descubramos em nós? “mudança” é seu slogan e definitivamente mudança não depende somente dele, nem somente dos políticos, mas do mundo como um todo que reconhece a realidade que os EUA lidera a comunidade internacional, juntamente com outros 4. Negar essa realidade seria dar murro em ponta de faca, mas hoje, não precisamos negar essa realidade, com um pouco de esperança podemos assumir que o cargo mais influente do Mundo será de um Ser Humano, com tudo o que nele compõe, inclusive a beleza da diversidade.
 
Barack Obama poderá não mundar o mundo, nem acabar com a cultura de guerra, tortura e morte promovida pelos EUA, nem impedir que o EUA pare de vigiar o mundo com seus 368.000 soldados em 120 páises do Globo e suas bases navais espalhadas em pontos estratégicos. Porém o que Barack Obama quer fazer é ser um estopim, um início onde a mudança, a reforma e reconstrução parta primeiramente de todos nós todos. Barack Obama representa que todos podem se libertar das correntes que os prendem ao retrocesso, ao preconceito racial e à ilusão de uma alienação.
 
Obama veio para agregar, unir e mostrar que a vitória do sonho dele e dos nossos sonhos só serão realidade através dos princípios da tolerância, da justiça e da responsabilidade que nós temos pelo Mundo e por tudo que nele habita. Obama veio para provar que, como cidadão,  a mudança parte dos próprios cidadãos. Obama significa a retomada do poder da cidadania como forma de nos tornarmos cidadãos de um mundo em que nenhum de nós seja omisso ou indiferente aos problemas e as crises globais.
 
Barack obama representa a esperança do início de uma nova era em que os Podres, os Racistas, os Omissos, os Opressores, os Assassinos, os Pseudo-Pacifistas perderão seu poder! E assim Obama nos dá a esperança de que um mundo de paz é possível ser construído por todos nós integralmente.
 
Viva Barack Obama!

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21 de Março 2003    

Savana

Carta de Mia Couto[1] ao Presidente Bush

(Documento fornecido pelo Partido Comunista de Portugal)

 

Mia Couto

Mia Couto

Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir ? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria.

Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho – a África do Sul do “apartheid” – violava de forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas fomos vítimas da agressão desse regime. Mas o regime do “apartheid” mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado “envolvimento positivo”. O ANC esteve também na lista negra como uma “organização terrorista!”. Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamados de “freedom fighters” por estratégias norte-americanos.

Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis fatos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência.

Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva. Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspetores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país

me inspirava? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram fatos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:

  • Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas atômicas sobre outras nações;
  • O seu país foi a única nação a ser condenada por “uso ilegítimo da força” pelo Tribunal Internacional de Justiça;
  • Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão;
  • O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998);
  • Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídrico;
  • Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;
  • A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi “o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade”;
  • O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant, um dos líderes mais sanguinários do Haiti, cujas forças para-militares massacraram milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o pedido.
  • Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam.
  • Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional. Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três países.
  • Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados.A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.
  • Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietnam (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)
  • Ações de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietnam, o vírus da peste contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país.
  • O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 000 crianças vietnamitas nasceram deformadas em conseqüência da guerra química das forças norte-americanas.

Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador.

Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas  já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela  razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional.Estaremos, enfim, mais sós e mais  desamparados.

Senhor Presidente:

O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens. O que está destruindo massivamente os iraquianos não são as armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans  Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções.

Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: “Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral”.

Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de  crianças iraquianas. Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo).

Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo.E que pensem que, para viverem tranqüilos, precisam construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas.

Como o seu país, que despende 270 000 000 000 000 dólares (duzentos e setenta biliões de dólares) por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a  mudar o destino miserável de milhões de seres.

O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu-lhe no final do ano passado uma carta intitulada “Porque é que o mundo odeia os EUA ?” O bispo da Igreja Católica da Florida é um ex-combatente na guerra do Vietname. Ele sabe o que é a guerra e escreveu:

“O senhor reclama que os EUA são alvo do  terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente ! Somos alvos dos terroristas porque,  na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e  a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países  agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu  próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais?”

E o bispo conclui: “O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos  humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu  falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos  odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais.”

Senhor Presidente:

 

Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção de Kyoto para conter o efeito de estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional contra o Racismo.

Não se preocupe, senhor Presidente. A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio de sucessivos ditadores.A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros.É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos.O perigo não é o regime de Saddam,

nem nenhum outro regime.Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo.O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos  próprios americanos.

Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein.E festejar com todos os americanos.Mas sem hipocrisia, sem argumentação para consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar.


 

[1] Escritor, teatrólogo e biólogo moçambicano. Obras principais: Vozes Anoitecidas, Cronicando, Estórias Abensonhadas, A Varanda do Frangipani, Raiz de Orvalho e Outros Poemas.

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